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Temperamento é destino
Temperamento é destino

TEMPERAMENTO É DESTINO

 

Temperamento é destino. Uma idéia fora de moda. Um preguiçoso semeia o vazio à sua volta. Um covarde destrói a vida à sua volta. Um mesquinho faz o mundo ficar feio. Um invejoso o faz irrespirável. Um vaidoso engana o amor das mulheres.

"Temperamento é destino" significa que, se você é preguiçoso e não consegue acordar cedo, é provável que não consiga fazer muita coisa na vida. Claro que isso não é uma regra universal: você pode ser preguiçoso e ser... rico! Ou ter uma mulher que te sustenta. Ou um marido que te sustenta. Ou ganhar na loteria. Mas, na maioria dos casos, quem não gosta de acordar cedo, ou quem inventa dificuldades para justificar a própria preguiça, tende a não realizar muita coisa na vida. Ponto.

Vê? Completamente fora de moda. Uma coisa simples assim trai uma visão de mundo fora de moda. Quer outro exemplo?

Gente covarde. Piorou, né? Piorou porque hoje todo mundo é legal. Ou, se não é, é por culpa de alguma forma de opressão. Até mesmo a psiquiatria e as neurociências estão virando desculpa para temperamentos sem muitas virtudes justificarem seus fracassos. Dia desses, as pessoas virão com "manual de funcionamento", e, por exemplo, aprovações em escolas e faculdade serão dadas por juízes e psiquiatras, e não mais pelos professores.

Bem feito para eles, os professores, que são bem culpados por isso tudo, uma vez que têm ensinado o "culto da vítima" há algumas décadas para os alunos. As crianças nem sabem mais as capitais dos Estados e dos países porque seus professores estão mais preocupados em pregar todo tipo de ideologia salvacionista. Quem diria que a sala de aula iria virar uma igreja?

Mas voltemos à covardia. Em épocas de guerra é mais fácil enxergar a covardia e ver que ela é uma epidemia. Em tempos de paz, ela fica mais disfarçada. Mas, ainda assim, você a vê aqui e ali. A covardia gosta de andar em bandos. Fala sempre "nós" e adora ser parte de algum "coletivo" ou "instituição". A covardia é incapaz de sair do protocolo. Sente-se em casa num protocolo. Por isso é prolixa e, assim, enche o saco da coragem que tende a ser impaciente com ela. A coragem é sua inimiga mortal, inclusive porque é mais bonita e inteligente do que ela. A covardia adora ouvir o som da própria voz.

A originalidade é terra estranha para a covardia, que prefere copiar. Ela, a covardia, costuma se dar bem quando a regra é obedecer a mediocridade. É sempre um risco enfrentar a mediocridade porque ela tem a maioria em seu exército. Covardia e mediocridade são irmãs gêmeas. Uma se reconhece na outra. Uma defende a outra com uma fúria que só miseráveis de caráter sentem. Normalmente, essa fúria é alimentada pela inveja, prima irmã da covardia e da mediocridade. Todas as três são feias de doer. Diria, em gíria popular: três barangas de matar!

E a mesquinhez? Se você é mesquinho, mesmo se ficar rico, permanecerá pobre de espírito. Olhará para o mundo assim como quem olha para uma casa vazia. Difícil será confiar em alguém. Sem confiança, respira-se mal. Come-se mal. Beija-se mal. Imagine só um mesquinho lambendo a boca de alguém por dentro? Ele morre de nojo. O maníaco por saúde é um mesquinho disfarçado. Sexo? Se lamber a boca dela por dentro o mataria de medo, imagine lambê-la entre as pernas? Mulheres generosas dão com gosto. Homens generosos tomam com amor. A generosidade é uma forma de confiança. E a confiança não sobrevive sem aquilo que Nietzsche chamava de Eros.

E a vaidade? Ah! A vaidade! A mais bela das fraquezas. Um pouco de vaidade faz parte do contrato social de elegância entre as pessoas. Só pessoas deselegantes dizem a verdade socialmente. E a mulher sem vaidade é como o homem sem coragem. Ambos não servem para quase nada. Pelo menos não servem um para o outro.

Temperamento é destino. Se você perder uns minutos olhando no espelho, verá como o destino está mais dentro de você do que pode parecer. Você também pode pensar em caráter como destino. Ideias fora de moda, mas que deviam voltar a ser usadas nas escolas e nas famílias. 

Autor: Luiz Felipe Pondé

Colunista da Folha de S. Paulo

Publicado na edição de 03.08.2015